sexta-feira, 22 de maio de 2009

O Veneno religioso!


Quantos de nós não desejamos ser zelosos com as coisas de Deus? Tanto na Bíblia como em Ellen White encontramos muitos convites para sermos zelosos em nossa religião. Mas há um perigo muito grande e ignorado no zelo. Na grande e esmagadora maioria das vezes o zelo é uma fonte de problemas e não de soluções. Por quê? Bem, porque assim como “não sabemos orar como convém” (Rom 8:26) também demonstramos que não sabemos adorar como convém. Veja o exemplo de Paulo. Antes de mais nada, vamos nos lembrar de quem ele foi para o cristianismo, agora, leiamos o seu texto. Veja o que ele diz a respeito dos seus próprios méritos:

Filipenses 3:4-11

“4 Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: 5 circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu…”


Até aqui vemos Paulo apresentando suas credenciais. Ele diz que se é pra se vangloriar na justiça própria ou nos méritos ele pode se vangloriar demais, afinal ele foi circuncidado corretamente, sendo Judeu fiel desde o nascimento, da tribo de Benjamim, aquela conhecida como a melhor tribo, os mais fiéis. Da linhagem pura e perfeita de Judeus. E formado com “curso superior” em teologia. Parte da casta nobre e elitizada do judaísmo. No verso seguinte ele chega a dizer que “quanto a justiça que há na lei, irrepreensível”. Alguém que não poderia nem mesmo ser acusado de pecar por ninguém, por ser irrepreensível na guarda da lei. Entretanto, notem a sua frase seguinte:

6 quanto ao zelo, perseguidor da igreja;”

Isso mesmo, PERSEGUIDOR DA IGREJA, ele disse. Era um homem sincero, fiel a Deus naquilo que acreditava ser o correto. A Bíblia dizia em Dt 21:23 que o que fosse “pendurado no madeiro é maldito”. E Paulo conhecia bem esse verso, tanto que o cita em Gal 3:13. Para Paulo Jesus era “maldito”. Não fazia sentido que Ele fosse o Messias. Devia ser um “maldito” que tentou ser considerado o filho de Deus. Em seu afã de fazer justiça a Deus e ZELO a sua religião, ele se tornou o perseguidor da igreja. Ele era fiel, estudado e tinha boas intenções. Mas foi um executor da injustiça e perseguiu a verdadeira igreja pelo seu Zelo. Quem diz isso não sou eu, é ele. Tanto era um homem “mal orientado”, que não “adorava como convém”, mas fiel, que Jesus aparece pessoalmente para ele e o tira de seu rumo zeloso. Depois disso Paulo deixa de ser Zeloso por acaso? Não! Pelo contrário, mas ele entende que não é o zelo que cuida da igreja, mas o dono dela. Foi Cristo quem salvou a igreja de sua perseguição. A verdade foi preservada por Cristo, pela mão do autor da nossa fé, e não pelas mãos dele, o homem mais zeloso de sua época. Não foi o seu desejo de preservar a verdade ou a igreja que mudaram as coisas, foi a presença de Cristo que mudou tudo e protegeu a igreja. O Zelo só serviu para uma coisa: PERSEGUIR A IGREJA. Isso fez com que ele mudasse seu foco, veja:

“7 Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo”.


Ele diz que aquilo que lhe era vantagem, suas características pessoais, seu conhecimento da religião, sua força de vontade de fazer a vontade da lei e de proteger a igreja, ele considerou “perda”, “inútil”. Veja porque:

8 Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como estrume, para ganhar a Cristo 9 e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; 10 para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; 11 para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos”.

Agora é Cristo e não a lei. É Cristo e não o que ele acha, ou suas opiniões. É Cristo e não a igreja ou a religião que são importantes pra ele. A sua salvação não depende da sua justiça nem do seu zelo. Depende de Cristo. Jesus “de algum modo” o ressuscitará, salvará.


Porque tenho dito estas coisas? Porque em anos de adventismo tenho encontrado muitos “zelosos” homens que desejam primar pelo que é “certo e o que é errado”. Homens que querem definir o que é divino e o que é humano. Homens como Paulo, bem intencionados, mas “mal orientados”. Homens que não entendem as palavras claras de Jesus ao dizer: Mateus 7:3-5 3 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? 4 Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? 5 Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão”.


E Paulo não foi o único! Pedro em seu zelo não queria pregar nem converter os gentios, achava que eles eram indignos e que corromperiam a fé. Até que Deus o impressionou e pressionou através de um sonho que dizia que o libertava de sua cegueira, de seu zelo, de sua trave. Os Fariseus não aceitaram a Jesus por puro Zelo. E aqui está uma lição, é muito fácil sermos zelosos para protegermos os nossos interesses, as nossas idéias. Vejo pessoas dizendo que não devemos mudar isso ou aquilo “por que desde sempre foi assim, desde quando eu entrei na igreja”. Não seguimos tradições como os fariseus faziam, seguimos a Cristo, como eles não foram capazes de fazer.


Há também os famosos amigos de Jó. Quando Jó em sua dor declarou que preferia nunca ter nascido, os amigos de Jó, em seu zelo pelo divino começaram a critica-lo e tentaram defender Deus. Começam a dizer que Jó não está agindo de maneira sensata como quem crê em Deus e dizem coisas a respeito de Deus que o próprio Deus se indigna no fim do livro. Eles estavam bem intencionados, a questão deles era a defesa de Deus. Mas Ele deixa claro que não está interessado em ser defendido injustamente. Deus pede para que Jó faça um sacrifício pelos seus amigos, pois Ele mesmo não aceitaria um sacrifício deles, pois para Deus eles falaram apenas “loucuras”. Deus não quer ser defendido erroneamente e pune os que o fazem. Ele não quer que Sua santa imagem seja manchada pelos loucos retratos que fazemos dEle. Ele não precisa de defensores. Ele precisa de pessoas que o conheçam, como Jó.


A nojenta igreja medieval causou o maior vexame da história do Cristianismo em todo o seu zelo. Perseguiu a igreja assim como Paulo. Os islâmicos fundamentalistas são zelosos e explodem bombas matando gente inocente. E há os cristãos fundamentalistas modernos, zelosos e preconceituosos na mesma dose. Rejeitam e se afastam dos pecadores em nome do que defendia Paulo e Pedro antes de entenderem completamente a verdade sobre Cristo.


Os liberais em sua frouxidão podem deixar escapar muito da verdade, mas o dano é menor do que o causado pelo Zelo fundamentalista. Pelo Zelo perseguidor. Os liberais se calam ou se afastam, nunca perseguem. Mas os zelosos correm atrás do problema, o buscam para o eliminar.



Um pastor amigo meu costumava dizer que toda igreja tem um irmão “providência”. Ele sempre chega para o pastor com a seguinte frase: “Pastor, temos que tomar uma providência”. Há também a erronea idéia de que o Pastor é um Xerife. Ele não é. A Igreja não é a sala da Justiça, é um hospital. As pessoas todas ali estão doente, e Cristo é o médico. Ellen White diz duas coisas que deviam pautar nossas ações e nosso zelo. A primeira é “Se tivermos que errar, que seja pela misericórdia”. A outra é “Quando homens, rodeados de fraquezas humanas, afetados em maior ou menor medida pelas influências ambientais, e tendo tendências hereditárias e cultivadas que estão longe de torna-los sábios ou espirituais, empreendem[...] lavrar sentença sobre o que é divino e o que é humano, estão eles trabalhando sem o conselho de Deus” (T5, p.709). Trocando em miúdos, é melhor errar porque amamos, “pela misericórdia” do que pela justiça e pelo zelo. E não é uma obra divina “lavrar sentença sobre o que é divino e o que é humano”.


A Lição da Bíblia e desses homens é que não estamos aqui para perseguir ninguém. Não estamos aqui para legislar sobre ninguém. Não estamos aqui para fazer o papel de Deus.


A Lição da Bíblia e desse homens é que Deus é quem zela por Sua igreja e por Suas verdades. E Ele quem nos salva, não por nossos méritos, mas pelos méritos dEle, em Cristo Jesus.Tenhamos zelo sim, por Cristo, por NOSSA religação (religião) com Ele. É isso que Ele deseja. Mas Ele é um Deus de liberdade que não deseja forçar ninguém a nada. Não deseja empurrar normas ou regras goela abaixo de ninguém. Ele quer escolhas livres e decididas. Escolhas de coração e não de aparência. Coisas que um homem nunca poderá enxergar. Muito menos com uma trave no olho.

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